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Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Sufoco.

por AF, em 13.07.20

Estou há dias a sentir um peso no meu peito, um sufoco que não me deixa respirar.

Estou a tentar ser forte e lutar para ser a menina boa que todos querem que seja mas ao mesmo tempo eu só quero ser eu sem ser julgada por isso. É o que tento fazer sempre não é? Que os outros se orgulhem de mim e que vejam que eu consigo estar à altura. Mas eu não estou, eu não sou capaz.

Se me perguntassem no ano passado ou em qualquer dia da minha vida anterior a este momento desde que comecei a ter os meus problemas a resposta seria a mesma. Eu não quero estar aqui, eu quero desparecer. Mas depois começam as questões de magoar a minha família e destruir a vida das pessoas, entre outras. "Tens que pensar nos outros, não podes pensar só em ti."

Honestamente não me lembro de um dia em que eu não pense nos outros. No que posso ou não fazer, no que posso ou não dizer para magoar alguém, para chatear alguém. E estou cansada de fingir e cansada de não poder ser sincera porque tenho medo. 

A verdade é esta. Eu tenho uma depressão, eu penso todos os dias em morrer e olhar para o espelho dá-me nojo porque eu detesto a pessoa que sou. Não quero esconder a verdade só porque temos que ter cuidado com o que partilhamos com os outros na internet. Só porque não queremos que pensem que nos estamos a fazer de coitadinhos. Eu não sou nenhuma coitadinha, eu deito-me todos os dias na cama que faço. Mas eu tenho direito a desabafar.

Tenho direito a abrir o meu coração para eliminar um bocadinho que seja do sufoco que vivo todos os dias e que toda a gente me diz que não tenho direito a ter porque tenho uma vida melhor do que muitos que vivem com nada. Desculpem-me se sou assim. Se um dia a minha cabeça decidiu dar um clique e ficar de pernas para o ar. Eu não faço por mal, não faço para vos magoar ou enganar ou manipular ou qualquer coisa de mal que possam achar de mim.

Aprendi há um tempo atrás que quando queremos mudar, a mudança vem de dentro. Mas eu não consigo mostrar resultados de mudança se estou a tentar descobrir o caminho certo no meio de uma estrada cheia de ramificações e cada um que escolho é sempre o errado. Eu tento mudar todos os dias. Ninguém vê, ninguém entende, mas eu tento.

Quando penso que seria melhor estar morta é porque acho que popuaria a muita gente a constante preocupação e desilusão em relação a mim. Desperdicei parte da minha vida a sofrer com algo que não se entende, a ser alguém que é fria e má e não quer estar perto da família.

O meu problema são as pessoas, não é a família. Não posso continuar a sentir-me culpada por me divertir quando saio com amigos e por chegar a casa e refugiar-me no meu canto. Não posso continuar a tentar remar para algum lado enquanto o barco se afunda cada vez mais. 

Não, eu não me vou suicidar. E embora tenham medo desta palavra e não gostam de a ouvir, eu sou uma pessoa suicida. Não activamente, porque não estou a planear e a executar esse acto, mas eu penso todos os dias em formas, em momentos, no meu funeral, na roupa que gostaria que me vestissem, nas cartas que precisaria de escrever, nas pessoas que se iriam despedir de mim. 

Sei que isto parte o coração a qualquer pessoa que goste de mim e que leia e que ao mesmo tempo provoque raiva e revolta porque eu não aproveito a minha vida mas eu não posso aproveitar algo que sinto que não exista. Os momentos esporádicos em que puxam por mim e me levam a viver e a provar a liberdade fazem-me sentir bem, fazem-me sentir eu. Mas não é por isso que a depressão sai de mim, não é por isso que eu fico magicamente bem. Eu batalho com isto há anos e não é agora que ela se vai embora só porque eu lhe digo.

Não me vale de nada continuar a trabalhar no duro para que as pessoas se orgulhem de mim quando só vêem o mal que eu tenho. Eu não faço nada, eu não ajudo em casa em nada e se ajudar isso não conta porque não é um acto de tentar ser melhor é só uma obrigação. Eu sou má pessoa. Eu aparentemente não gosto da minha família. Eu sou uma vergonha. Eu sou uma desgraça. Eu não presto.

Estou cansada de deixar estas palavras dentro do meu peito a ecoarem vezes e vezes e vezes sem conta, a magoarem-me a tornarem-me cada vez mais fria e revoltada. Não, eu não sou a criança querida e "brilhante" que em tempos fui. Nem nunca mais vou ser. Eu mudei. Eu vi muita coisa acontecer que me fizeram mudar de opinião, que me fizeram tornar naquilo que sou hoje. Eu não sou perfeita, muito pelo contrário eu devo ser uma das pessoas mais estragadas que existem e tenho culpa de tanta coisa que se passa comigo. Tenho culpa de respirar.

Espero que este texto não seja lido por muita gente. Espero que não seja lido por ninguém. Ao contrário do que se pensa criei este blog para poder desabafar à vontade sem tabús, censuras ou floreados. Tenho muito mais para dizer mas a minha cabeça já não funciona mais. 

Acabo o meu estágio daqui a dois meses e sinto-me incapaz de cumprir o que esperam de mim. Tenho a vida de pernas para o ar (porque aparentemente sou eu que quero isso) e não consigo fingir mais. Não consigo mentir que estou bem e que se pode ser normal quando não estou e quando não consigo. Eu não sou normal. Eu tenho problemas psicológicos, sérios que não vão passar agora, nem em breve.

Quando me vim embora do hospital para fazer o curso, a minha mãe disse-me que era demasiado cedo e eu devia tê-la ouvido. Não ouvi porque achei que ia orgulhar a minha família e ia arranjar trabalho depressa para poder seguir a minha vida. Mas passei mal durante o meu curso inteiro, voltei a sentir-me o E.T. que sempre senti. Tive ataques de pânico várias vezes e fui gozada por isso, porque achavam que eram birras. As pessoas achavam-me ridícula. Nunca me disseram nada cara mas eu sei que achavam. Mas elas também não sabiam que enquanto se riam de mim eu estava sentada no vão das escadas a olhar para o espaço entre todos os andares e a considerar saltar. Faltou-me a coragem de todas essas vezes. Se calhar não devia ter faltado.

Ou se calhar devia e é suposto eu estar aqui a sofrer e a fazer por mudar, não pela forma que é suposto mas pela forma que para mim me é mais confortável e me faz ver uma saída. Os outros não são os monstros, o monstro aqui sou eu. Sempre fui e se dizem que não fui então eu digo que me tornei. Eu não quis tornar-me num monstro, nunca quis ser como sou, como fui ao longo da minha vida, mas aqui estou eu com quase vinte e seis anos a admitir que eu não sou boa pessoa, que sou fria, que sou antisocial e que sou um monstro.

Tudo para dizer que no fim vou ficar sozinha como sempre disse que ia ficar. Não por culpa dos outros mas por minha. E não tem mal, eu sempre disse em cada discussão que tinha no curso que eu me punha a jeito. Mas também sempre disse que nunca voltaria atrás nas palavras que eu dizia porque isso seria mentir e se eu sentia eu tinha que as dizer. Hoje digo estas palavras porque elas representam os sentimentos mais profundos do meu coração, que é feio, está preto e corrompido.

Mas eu também sou humana. Eu também sinto. E se todos os outros tiveram o direito de errar, de decidir a vida deles e fazer as próprias escolhas então eu também tenho. E eu até posso não conseguir hoje porque me faltam as forças e me faltam as oportunidades mas quando as fizer, não será por isso que sou má. Má já eu sou. Mas deixem-me ser má e livre, sem chatear ninguém. É tão mais fácil assim.

E no fundo peço desculpa às susceptibilidades feridas com as minhas palavras porque efectivamente as palavras doem mas eu também tenho muita dor no meu coração que não é aceite e não é entendida. Eu não peço que ninguém me entenda. Também não peço que ninguém que ajude porque eu sou mulher o suficiente para assumir o que sou, os meus erros e saber erguer-me sozinha.

Mas isso não será hoje. Talvez amanhã.

Há um ano atrás.

por AF, em 18.10.19

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Há um ano atrás a minha vida era diferente.

Eu estava a trabalhar num emprego que não me fazia feliz onde a cada dia que passava sentia a energia e vontade de dar o meu melhor abandonarem-me juntamente com a minha dignidade. Há pessoas que talvez não concordem mas há um ano atrás eu estava a pôr o meu trabalho à frente de tudo o resto na minha vida.

Há um ano atrás estava cansada de pessoas. Não conseguia lidar com quem me faltasse ao respeito. Respondia e irritava-me porque estava farta de ser pisada. Estava revoltada. Fosse com clientes ou colegas eu sentia que não havia ninguém que me entendesse ali. Ou em qualquer outro lado com quaisquer outras pessoas. Há um ano atrás eu sentia-me sozinha.

Há um ano atrás eu estava magoada. Não sabia porquê mas estava frágil. Sentia-me a cair num abismo onde eu não conseguia ver o fundo e sem paraquedas às costas. Chorava e sentia um enorme sufoco a tomar conta de mim, a tirar todo o ar do meu peito e a vida de todo o meu corpo.

Há um ano atrás eu tinha dores. Hoje também tenho mas há um ano atrás eu não aceitava que pudesse ser tão nova e sofrer assim. Continuo sem aceitar totalmente mas estou mais compreensiva. Naquela altura não aguentava viver, só existir. O meu corpo estava sempre a lutar contra mim. Eu andava completamente esgotada e tão cansada de ter dores tão fortes que só me apetecia desaparecer.

Há quase um ano atrás eu tentei desaparecer.

Não vale a pena esconder. Não vale a pena pôr-me com rodeios porque faz parte da minha vida e faz parte de quem sou hoje. Se há um ano atrás não tivesse feito o que fiz, certamente não estava onde estou hoje. Há um ano atrás tentei-me suicidar.

E depois encontrei a luz.

Um hospital, um serviço, um grupo.

Há dez meses atrás eu entrei para uma família. Uma família que só existia ali, onde eu podia ser o mais verdadeira possível e falar de tudo sem medos. Onde descobri tanto sobre mim e sobre o mundo, tanto sobre a vida. Um lugar onde me encontrei, onde percebi o que eu gostava e que não gostava. Onde pus em marcha a minha própria revolução contra quem eu queria pelas razões que eu queria e ser perdoada por levar as coisas para extremos. Foi onde eu aprendi a acabar de tricotar um cachecol, a fazer uma caixa em dobragem de papel, a costurar, a fazer coisas deliciosas e acima de tudo a perdoar. A perdoar-me a mim própria, a perdoar o mundo e a perdoar o passado.

Há um ano atrás eu sentia-me perdida. Hoje sinto que me encontrei.

Hoje tive alta. Despedi-me das pessoas, percebi que já não faço parte daquela família e que posso dizer adeus mas não faz mal porque há coisas e pessoas que não são o destino, são apenas a viagem.

E apesar de saber que tenho um longo caminho pela frente e tanta coisa ainda para resolver dentro da minha cabeça - um novelo tão grande e emaranhado que eu própria não sei todos os problemas - que posso demorar uma vida inteira a chegar lá; eu sei que vale a pena.

Eu sei que eu estou aqui e que posso vencer. Posso ser eu própria porque eu tenho valor. Posso fazer as coisas que gosto e aprender novas coisas que também gosto. Posso dizer que não e posso ser assertiva sem ter que ser agressiva. Posso compreender que existe bom no mau e mau no bom. Posso aceitar que nem sempre a vida vai ser justa e que me vou magoar muitas vezes mas que é bom chorar e libertar os sentimentos para não os acumular e torná-los piores. Posso ser alguém. Posso ser feliz.

Não quer dizer que faça todas estas coisas ou que de repente esteja completamente curada e uma pessoa totalmente nova mas há um ano atrás eu não era assim.

Há um ano atrás eu não sabia quem sou e hoje sei que sou a Filipa.

E para mim isso basta.

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