Desde que me lembro que tenho um sonho. Maior do que qualquer um que me atravesse a mente. Ele está sempre lá, sem mudar, sem perder a importância, sempre o meu maior sonho. Começou quando era pequenina, mesmo sem me aperceber, quando escrevia histórias sobre brinquedos que ganhavam vidas. Eu escrevia e sem saber o sonho tinha nascido e cada vez que voltava a escrever era como se o alimentasse e ele crescia mais.
O meu sonho é escrever um livro.
Quando me tornei adolescente, a minha cabeça fumegava com a quantidade de ideias que tinha. E eu? Escrevia e voltava a escrever. E se me apetecesse escrevia ainda mais. Tantas histórias, tantas personagens tantas coisas que a minha imaginação criava sem qualquer esforço. O meu sonho tinha ganho a imensidão do mundo. Era tão forte que me apetecia desistir da possibilidade de ter qualquer profissão que não fosse escritora.
Ainda hoje tenho guardados rascunhos e resumos de tudo aquilo que eu queria transformar num tesouro de papel. Estão à espera que volte a tocar-lhes, que lhes dê vida e asas para voarem.
Mas eis o problema: a minha cabeça já não funciona.
Antigamente não tinha um único problema em escrever um português correcto e diversificado. As minhas ideias estavam em ordens, perfeitamente identificadas sem falhar um pormenor. Hoje já não é assim. O simples facto de escrever este blog e tentar organizar os meus pensamentos, para que façam sentido, é um trabalho duro. Eu escrevo e vou escrevendo sempre de seguida até conseguir acabar porque se parar então tudo aquilo que está na minha cabeça à espera de passar para o papel (ou computador neste caso) desaparece como se de nada se tratasse.
Estou confusa. Não consigo lembrar-me daquilo que queria ou sequer organizar aquilo que ainda vou imaginar. As ideias não vêm, as palavras fogem e eu fico aqui com um sonho nas mãos que se tornou tão grandioso que virou um peso sobre as minhas costas.
Era só um livro, não era nada de especial certo? Parece tão fácil quando penso assim; era só chegar, inventar qualquer coisa, escrever e já estava. Acontece que tenho todos estes problemas em cima de mim a pressionarem-me e a lançarem-me directamente para o fracasso. Para além do mais, quando leio o que escrevo acabo sempre por odiar e não perceber onde é que eu queria chegar com aquilo.
No fundo eu sei onde é que quero chegar só que é tão difícil.
Hoje escrevo-vos num misto de frustração e desabafo.
Desde que fui diagnosticada, até agora, fui aprendendo muito sobre mim e algumas coisas começaram a fazer muito sentido ao ponto de eu perceber que certos defeitos meus que apareceram nos últimos tempos são, de facto, sintomas da fibromialgia.
Acontece que desde há quase dois anos para cá me comecei a sentir muito mais confusa em relação a pequenas coisas do dia-a-dia como o meu nome, idade ou até palavras simples que não me devia esquecer. E é aqui que vocês dizem: "mas a fibromialgia não provoca esse tipo de coisas, deves estar a fazer confusão".
Talvez até esteja. Honestamente já não sei muito bem expressar-me e transmitir as minhas ideias e pensamentos de forma coerente sem que me esqueça do que estou a dizer a meio. Isto não vai piorar nem acontece sempre mas não posso deixar de referir que me chateia imenso.
Quando era pequena sonhava que um dia me tornaria numa mulher de sucesso, poderosa e admirada por todos. Sonhei que conseguiria lutar pelos meus sonhos e ter uma inteligência acima da média que me abriria incontáveis portas de oportunidades. Hoje, sento-me aqui à frente do computador (extremamente frustrada devo repetir) e vejo que nada do que planeara aconteceu.
A minha mente enche-se de nevoeiro quando tento organizar os pensamentos e vagueia por vários lugares sem me pedir autorização. Talvez já tenham percebido como perco o fio à meada em certas publicações deste blog ou se calhar consegui disfarçar muito bem porém é uma verdade irrefutável que me custa escrever algo do início ao fim sem esquecer ou atropelar-me a mim própria numa nuvem de ideias entrelaçadas.
Nisto, devo também mencionar que não me livro das consequências deste nevoeiro mental. Tenho a sensação de que as pessoas à minha volta ficam constantemente com a percepção de que eu sou uma irreponsável que não sabe falar ou expressar-se e que gagueja demasiado.
Se falassem comigo há cerca de três ou quatro anos atrás garanto-vos que não era assim. Mais uma vez sinto que devo afirmar que não procuro qualquer tipo de pena neste blog. Pelo contrário, a minha intenção é fazer-vos conhecer mais sobre uma doença raramente falada e desconhecida. Não é algo que me mate nem é algo que me incapacite para o resto da minha vida mas viver com fibromialgia não é tarefa fácil.
Hoje estou frustrada. Sinto que não consigo passar o dia com as minhas completas capacidades cognitivas e isso deixa-me exausta como se tivesse acabado de correr a maratona. Se pudesse desligar-me durante uns dias para recarregar baterias não hesitaria em fazê-lo.
Hoje não estou fabulosa. Estou só crónica e honestamente quem me dera não estar.