Sufoco.
Estou há dias a sentir um peso no meu peito, um sufoco que não me deixa respirar.
Estou a tentar ser forte e lutar para ser a menina boa que todos querem que seja mas ao mesmo tempo eu só quero ser eu sem ser julgada por isso. É o que tento fazer sempre não é? Que os outros se orgulhem de mim e que vejam que eu consigo estar à altura. Mas eu não estou, eu não sou capaz.
Se me perguntassem no ano passado ou em qualquer dia da minha vida anterior a este momento desde que comecei a ter os meus problemas a resposta seria a mesma. Eu não quero estar aqui, eu quero desparecer. Mas depois começam as questões de magoar a minha família e destruir a vida das pessoas, entre outras. "Tens que pensar nos outros, não podes pensar só em ti."
Honestamente não me lembro de um dia em que eu não pense nos outros. No que posso ou não fazer, no que posso ou não dizer para magoar alguém, para chatear alguém. E estou cansada de fingir e cansada de não poder ser sincera porque tenho medo.
A verdade é esta. Eu tenho uma depressão, eu penso todos os dias em morrer e olhar para o espelho dá-me nojo porque eu detesto a pessoa que sou. Não quero esconder a verdade só porque temos que ter cuidado com o que partilhamos com os outros na internet. Só porque não queremos que pensem que nos estamos a fazer de coitadinhos. Eu não sou nenhuma coitadinha, eu deito-me todos os dias na cama que faço. Mas eu tenho direito a desabafar.
Tenho direito a abrir o meu coração para eliminar um bocadinho que seja do sufoco que vivo todos os dias e que toda a gente me diz que não tenho direito a ter porque tenho uma vida melhor do que muitos que vivem com nada. Desculpem-me se sou assim. Se um dia a minha cabeça decidiu dar um clique e ficar de pernas para o ar. Eu não faço por mal, não faço para vos magoar ou enganar ou manipular ou qualquer coisa de mal que possam achar de mim.
Aprendi há um tempo atrás que quando queremos mudar, a mudança vem de dentro. Mas eu não consigo mostrar resultados de mudança se estou a tentar descobrir o caminho certo no meio de uma estrada cheia de ramificações e cada um que escolho é sempre o errado. Eu tento mudar todos os dias. Ninguém vê, ninguém entende, mas eu tento.
Quando penso que seria melhor estar morta é porque acho que popuaria a muita gente a constante preocupação e desilusão em relação a mim. Desperdicei parte da minha vida a sofrer com algo que não se entende, a ser alguém que é fria e má e não quer estar perto da família.
O meu problema são as pessoas, não é a família. Não posso continuar a sentir-me culpada por me divertir quando saio com amigos e por chegar a casa e refugiar-me no meu canto. Não posso continuar a tentar remar para algum lado enquanto o barco se afunda cada vez mais.
Não, eu não me vou suicidar. E embora tenham medo desta palavra e não gostam de a ouvir, eu sou uma pessoa suicida. Não activamente, porque não estou a planear e a executar esse acto, mas eu penso todos os dias em formas, em momentos, no meu funeral, na roupa que gostaria que me vestissem, nas cartas que precisaria de escrever, nas pessoas que se iriam despedir de mim.
Sei que isto parte o coração a qualquer pessoa que goste de mim e que leia e que ao mesmo tempo provoque raiva e revolta porque eu não aproveito a minha vida mas eu não posso aproveitar algo que sinto que não exista. Os momentos esporádicos em que puxam por mim e me levam a viver e a provar a liberdade fazem-me sentir bem, fazem-me sentir eu. Mas não é por isso que a depressão sai de mim, não é por isso que eu fico magicamente bem. Eu batalho com isto há anos e não é agora que ela se vai embora só porque eu lhe digo.
Não me vale de nada continuar a trabalhar no duro para que as pessoas se orgulhem de mim quando só vêem o mal que eu tenho. Eu não faço nada, eu não ajudo em casa em nada e se ajudar isso não conta porque não é um acto de tentar ser melhor é só uma obrigação. Eu sou má pessoa. Eu aparentemente não gosto da minha família. Eu sou uma vergonha. Eu sou uma desgraça. Eu não presto.
Estou cansada de deixar estas palavras dentro do meu peito a ecoarem vezes e vezes e vezes sem conta, a magoarem-me a tornarem-me cada vez mais fria e revoltada. Não, eu não sou a criança querida e "brilhante" que em tempos fui. Nem nunca mais vou ser. Eu mudei. Eu vi muita coisa acontecer que me fizeram mudar de opinião, que me fizeram tornar naquilo que sou hoje. Eu não sou perfeita, muito pelo contrário eu devo ser uma das pessoas mais estragadas que existem e tenho culpa de tanta coisa que se passa comigo. Tenho culpa de respirar.
Espero que este texto não seja lido por muita gente. Espero que não seja lido por ninguém. Ao contrário do que se pensa criei este blog para poder desabafar à vontade sem tabús, censuras ou floreados. Tenho muito mais para dizer mas a minha cabeça já não funciona mais.
Acabo o meu estágio daqui a dois meses e sinto-me incapaz de cumprir o que esperam de mim. Tenho a vida de pernas para o ar (porque aparentemente sou eu que quero isso) e não consigo fingir mais. Não consigo mentir que estou bem e que se pode ser normal quando não estou e quando não consigo. Eu não sou normal. Eu tenho problemas psicológicos, sérios que não vão passar agora, nem em breve.
Quando me vim embora do hospital para fazer o curso, a minha mãe disse-me que era demasiado cedo e eu devia tê-la ouvido. Não ouvi porque achei que ia orgulhar a minha família e ia arranjar trabalho depressa para poder seguir a minha vida. Mas passei mal durante o meu curso inteiro, voltei a sentir-me o E.T. que sempre senti. Tive ataques de pânico várias vezes e fui gozada por isso, porque achavam que eram birras. As pessoas achavam-me ridícula. Nunca me disseram nada cara mas eu sei que achavam. Mas elas também não sabiam que enquanto se riam de mim eu estava sentada no vão das escadas a olhar para o espaço entre todos os andares e a considerar saltar. Faltou-me a coragem de todas essas vezes. Se calhar não devia ter faltado.
Ou se calhar devia e é suposto eu estar aqui a sofrer e a fazer por mudar, não pela forma que é suposto mas pela forma que para mim me é mais confortável e me faz ver uma saída. Os outros não são os monstros, o monstro aqui sou eu. Sempre fui e se dizem que não fui então eu digo que me tornei. Eu não quis tornar-me num monstro, nunca quis ser como sou, como fui ao longo da minha vida, mas aqui estou eu com quase vinte e seis anos a admitir que eu não sou boa pessoa, que sou fria, que sou antisocial e que sou um monstro.
Tudo para dizer que no fim vou ficar sozinha como sempre disse que ia ficar. Não por culpa dos outros mas por minha. E não tem mal, eu sempre disse em cada discussão que tinha no curso que eu me punha a jeito. Mas também sempre disse que nunca voltaria atrás nas palavras que eu dizia porque isso seria mentir e se eu sentia eu tinha que as dizer. Hoje digo estas palavras porque elas representam os sentimentos mais profundos do meu coração, que é feio, está preto e corrompido.
Mas eu também sou humana. Eu também sinto. E se todos os outros tiveram o direito de errar, de decidir a vida deles e fazer as próprias escolhas então eu também tenho. E eu até posso não conseguir hoje porque me faltam as forças e me faltam as oportunidades mas quando as fizer, não será por isso que sou má. Má já eu sou. Mas deixem-me ser má e livre, sem chatear ninguém. É tão mais fácil assim.
E no fundo peço desculpa às susceptibilidades feridas com as minhas palavras porque efectivamente as palavras doem mas eu também tenho muita dor no meu coração que não é aceite e não é entendida. Eu não peço que ninguém me entenda. Também não peço que ninguém que ajude porque eu sou mulher o suficiente para assumir o que sou, os meus erros e saber erguer-me sozinha.
Mas isso não será hoje. Talvez amanhã.