Chuva.
Está a chover. Merda.
Acho que ainda ninguém ensinou ao S. Pedro que uma pessoa com doença crónica não suporta de forma alguma estar sob um clima húmido. Se bem que não só doenças crónicas: uma pessoa que tenha o braço partido vai, certamente, ter mais dores nos dias em que a humidade no ar aumenta significativamente.
Acontece que se num dia normal já tenho dores, então num chuvoso tenho muitas mais. É como se o meu corpo fosse uma espécie de instrumento meteorológico. A dor piora um bocadinho e eu penso logo, pronto, alguma coisa está mal. Das duas uma: ou é frio ou é chuva e, sejamos absolutamente sinceros, nenhum deles é apetecível.
O dia até começou bem. Estava sol com uma temperatura agradável que me fez finalmente sentir na Primavera e eu fui trabalhar de manhã com energia e vontade.
Até que o céu decidiu chorar.
Até parece romântico dizer isto, não?
Primeiro o céu ficou mais escuro, depois a luz e o dia e toda a atmosfera lá fora ficou numa daquelas cores feias que lembram os filmes de acção apocalípticos... ou então quando há uma ligeira trovoada. Enfim, preparava-se para vir assim uma chuvinha agradável (só que não) para nos arrebitar um bocado para o fim de semana. Pensavam que iam passear à beira-mar? Errado! Ou talvez um piquenique no jardim? Nem pensem!
Bom, para além de estragar os planos dos sortudos que têm folga fixa ao fim-de-semana, também devo confessar que este tempo não veio nada a calhar para mim. Estava perfeitamente satisfeita com as minhas contraturas nos trapézios, ou aquela constante sensação dos nós nos dedos a prenderem, ou talvez ainda a forma como o meu pescoço parece demasiado enfiado dentro dos ombros e o peso da gravidade ainda parece maior. Mas não, isso não era suficiente para a Filipa! A vida decidiu lixar-me. Só assim mais uma vez.
E lá está, começou a chover e vieram as dores nas pernas. Sabem quando eram pequenos e tinham as ditas dores de crescimento? Não sabem? Bom, eu costumava tê-las muitas vezes e eram um verdadeiro pesadelo. Lembro-me de pensar que como eram dores de crescimento, elas desapareceriam eventualmente quando eu crescesse e isso era fixe. Pois.
Para quem sabe exactamente de que dores falam, então lembram-se do inferno que era tentar pará-las. Desde esfregar as pernas com álcool, a massajá-las afincadamente, a desistir e enlouquecer quando elas não passavam. Agora imaginem esse querido inferno voltar, passado anos de tortura, por causa de uma estúpida doença que tem o objectivo de nos massacrar ao máximo.
Se soubesse desenhar agora seria o momento em que eu enfiava aqui algures um cartoon engraçado a personificar a fibromilgia como uma pessoa muito chata a espetar a faquinha devagarinho com um sorriso sádico à desenho animado japonês na cara. Acho que percebem.
E o caminho continua. Já tomei os meus medicamentos S.O.S e daqui a bocado vou cravar a minha querida e maravilhosa mãe (nada de graxa) para me vir dar uma massagem às pernas e evitar que eu comece a bater com a cabeça nas paredes.
Se amanhã estiver a chover e ainda estiver frio, juro que eu própria subo até ao S. Pedro e o levo pela orelha até ao inferno até ele aprender a controlar o tempo como deve ser. Estás de castigo, S. Pedro!
Enfim, é só mais um dia com a fibromialgia, não é?