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Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Pequenas vitórias.

por AF, em 27.11.17

Quero partilhar uma coisa convosco.

Ao fim de dois anos ontem foi a primeira vez que eu consegui trabalhar oito horas num dia. Até pode nem parecer nada de especial para a maioria de vocês mas deixem-me dizer-vos que eu cheguei a pensar que nunca mais conseguiria trabalhar um turno inteiro como uma pessoa normal.

Mas estava enganada.

Não vou negar. Ao início, quando descobri que ia cumprir as temidas oito horas, fiquei nervosa e com medo de falhar. Ainda cheguei a pensar umas quantas vezes que não era capaz e que ia quebrar com as dores ao fim de meio dia.

No entanto aquilo que aconteceu foi exactamente o contrário. Acordei cheia de sono (como sempre), com dores (como sempre!) e num misto de ânsia, nervosismo e dúvida própria. Levantei-me cedo e fiz tudo aquilo que costumo fazer quando me estou a preparar para ir trabalhar. Tomei o pequeno almoço e quando olhei para as horas faltava uma hora para entrar. Eu já estava pronta com imenso tempo para esperar. Então, para fingir ao mundo que sou super saudável e de maneira alguma sou um zombie quando acordo, decidi maquilhar-me. Enfim, coisas típicas.

Quando saí de casa sentia-me como uma guerreira pronta para a derradeira batalha pela liberdade. Chamem-me dramática mas existem certas coisas na minha vida actual que parecem mínimas para o mundo e, no entanto, para mim são monumentais. São pequenos passos, pequenas vitórias que me fazem sentir mais normal.

Comecei a trabalhar tal como acordei: extramamente cansada. Mas não deixei que isso se transparecesse no meu trabalho e tentei dar o melhor de mim como tento dar sempre. Nem sempre o melhor de mim é exactamente aquilo que os outros esperam mas eu não desisto.

A hora de almoço chegou devagar. Cheguei a casa, comi que nem um animal e ainda tive uns quantos minutos para relaxar, verificar os meus jogos e ponderar que teria de voltar. Eu nunca voltava.... que estranho que era ter ainda mais horas de trabalho pela frente!

Acontece que assim que cheguei ao trabalho esqueci-me que tinha trabalhado aquele tempo todo e foi como se começasse de novo. Não morri, não sofri e o mais importante é que não desisti.

Podem perguntar-se porque vos conto isto com tantos detalhes desnecessários. Para quê dar tanto ênfase a algo que a maioria das pessoas faz todos os dias, nem sempre com uma perna as costas, muitas vezes cansadas e frustradas, mas fazem-no sempre. Então porque raio é que eu me acho tão especial?

Porque a vida roubou-me os meus sonhos. As dores esmurraram não só o meu corpo como a minha capacidade de viver feliz e despreocupada, de sonhar com uma carreira e um futuro brilhante e, em suma, de ser normal. Mas normal? É claro que sou normal.

Só que há quase três anos atrás uma dor começou que ainda não passou. Há três anos atrás passei de ter diferentes aspirações e objectivos para pensar que se calhar estaria destinada apenas a uma vida medíocre. Há três anos atrás perdi a motivação. Se acham que isso não importa então deixem-me dizer-vos o contrário.

Nunca mais trabalhei a tempo inteiro. Raramente consegui trabalhar mais do que quatro horas seguidas e quando o fazia sentia-me péssima. As dores eram tantas que eu trabalhava e não fazia mais nada o resto do dia porque não conseguia.

Lentamente tentei mudar isso mas o medo de falhar nunca se foi embora.

Ontem, que fique marcado como 26 de Novembro de 2017, voltei a ser capaz de fazer algo que pensei nunca voltar a conseguir. Consegui trabalhar oito horas. Sabem o que é quando vocês passam muito tempo a tentar conseguir algo e falham vezes sem conta até que finalmente, quase que por milagre, acertam numa das tentativas e são vencedores?

Ontem fui uma vencedora.

E a partir de agora, serei sempre.

Experiências

por AF, em 08.11.17

Sei que tenho andado ausente mas acontece que de há umas semanas para cá tenho andado a fazer uma experiência: ir ao ginásio.
Não vos vou mentir, não tem sido fácil.
Continuo a ter a opinião de que devemos tentar mexer o corpo porque isso nos faz sentir melhor. No entanto, nem tudo é um mar de rosas.
As dores continuam. Existem dias em que eu quero ir e não consigo porque sinto-me como se me tivessem a espetar facas nas pernas ou noutro sítio do corpo. Aqui não há margem para me chamarem preguiçosa porque, sabem que mais? Eu gosto mesmo de ir ao ginásio.
Fico lá uma hora e meia a fazer exercício e sozinha com a minha cabeça. Ninguém me chateia, ninguém fala para mim. A música toca nas colunas e eu não me foco nela, foco-me em mim. Às vezes uso-a como meio para entrar no ritmo e manter-me nele durante o tempo necessário para acabar aquele aparelho.
Faço uns abdominais (uau, quem diria que voltaria a conseguir!) e há dias em que me atrevo a tentar a musculação para aliviar certas dores nas costas. Em suma, é maravilhoso.
Ou pelo menos até me deitar à noite.
Não se assustem, não é pelo corpo dorido. O problema é que já há muito tempo que não durmo bem à noite. Não consigo. Quando durmo ou tenho pesadelos ou acordo várias vezes. A cabeça desliga-se mas o corpo parece que vai correr a maratona durante aquelas oito horas (ou mais, muito mais) em que estou a tentar dormir. E nisto, acabo por acordar muito mais cansada do que quando me vou deitar.
Mas o ginásio continua lá e eu tenho que ir. Esgotada e com dores que aparecem sabe-se lá de onde eu tenho que insistir e voltar a ir.
E vou.
O meu corpo tem vontade própria. Por isso, ele é que decide quando e onde me quer torturar. E deixem-me dizer-vos que a vinte minutos de terminar a meia hora que devo fazer na passadeira não é, de todo, a melhor altura para as minhas pernas começarem a doer ou deixarem de funcionar. Enfim.
O lado positivo disto tudo é que estou realmente a emagrecer. É uma viagem muito lenta (e complicada) mas os quilos estão a cair.
E é isso que me faz continuar. Saber que estou a lutar por mim e a não deixar a fibromialgia vencer-me. Porque eu sou mais forte.
Agora é só não desistir e esperar não cair na passadeira à frente de todos só porque as minhas pernas decidiram colapsar.
Desejem-me sorte!

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