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Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Cronicamente Fabulosa

Tenho fibromialgia, mas também sou fabulosa e esta é a grande aventura que é a minha vida.

Para a minha irmã.

por AF, em 10.10.18

 

Querida irmã,

Hoje escrevo só para ti. Escrevo porque há tantas coisas que te quero dizer mas não sei como porque não te quero deixar triste nem preocupada. Mas hoje também escrevo com amor.

Nunca me vou esquecer do primeiro momento em que te vi e jurei para mim mesma que te ia proteger para sempre com todas as forças no meu ser. Lembro-me de ver uma bebé tão pequenina, tão frágil que tinha chegado a este mundo tão cinzento e cruel. E aí soube. Tu eras minha e eu era tua para todo o sempre. E ai de quem se atrevesse a fazer mal à minha menina!

Hoje nada mudou. Continuo a amar-te com todas as fibras existentes no meu corpo. Tenho o maior orgulho do mundo na menina que te tornaste e na mulher que ainda vais ser. És o meu sol, és verdadeiramente a pessoa mais importante da minha vida. E eu sou a tua irmã mais velha. É aqui que está o problema.

Eu devia ser o teu modelo, alguém que olhasses e pudesses pensar "é igual a ela que eu quero ser". Devia levar-te a passear a todo o lado e fazer todo o tipo de brincadeiras contigo que enchessem essa tua cabecinha de boas memórias para o futuro. Devia inspirar-te a gostares de ti própria e a teres uma confiança indestrutível que te dessem vontade de conquistar o mundo. Eu devia ser uma boa irmã.

Só que em vez disso passo muitas tardes a dormir quando me pedes a brincar, não tenho cabeça ou energia para jogar aqueles jogos que nós gostamos tanto de jogar e a minha cabeça já não é boa o suficiente para te ajudar com os trabalhos na escola. Quando te devia dar bons exemplos e fortalecer o teu espírito para seres uma menina emocionalmente forte, deixo-te ver os meus maus momentos quando estou quase a cair no abismo. Mostro-te que existe um lado mau no nosso ser que pode levar à auto-destruição. E depois vejo isso reflectir-se em ti.

Perdoa-me.

Neste momento e com todo o meu coração peço-te que me perdoes.

Não vais ler isto hoje, nem amanhã e provavelmente vão passar muitos anos até eu mencionar casualmente numa conversa que um dia escrevi no meu blog sobre ti. Só aí é que vais perceber que se eu pudesse tinha mudado tudo. Tinha-te dado excelentes memórias de infância. Tinha-te levado a todo o lado, tinha passado tantas novas experiências contigo, tinha-te ensinado a seres uma super menina que seria eventualmente uma super mulher.

Quando fores uma super mulher vais perceber que tiveste uma espécie de vilã como irmã.

Mas não fiques chateada comigo. Lembra-te que te amo e que às vezes as coisas atacam-nos de tal forma que nos tornam nos monstros contra os quais lutamos diariamente. Lembra-te que és e serás sempre o sol da minha vida. A minha princesa.

Quando fores uma super mulher vais perceber que não fiz por mal.

Eu tentei e tento. Eu juro que tento todos os dias que me pedes para brincar ou que me vens contar uma história engraçada. Desculpa quando não brinco, quando não te ajudo com isto ou aquilo ou quando não presto tanta atenção às histórias que me contas. Mas mesmo quando parece que não quero saber, eu quero. E lembro-me das tuas paixões secretas, das tuas melhores amigas na escola e da palhaçada que fizeram naquele dia no meio da aula.

Quando fores uma super mulher vais-te lembrar dos momentos em que viste em mim o pior.

E eu peço-te tanto perdão aqui. É o meu maior arrependimento. Nunca quis que visses os meus demónios. Nunca quis que ouvisses as coisas más que dizia sobre mim própria ou que queria fazer. Queria que continuasses inocente. Que não soubesses que era possível uma pessoa odiar-se e achar que era uma nulidade na vida. Nessa altura não entenderias se te explicasse mas é tudo causa de uma doença. Uma doença estranha que nos afecta psicologicamente e nos faz pensar coisas más que quase parecem pesadelos.

Quando fores uma super mulher vais entender.

Vais perceber que apesar das depressões e da fibromialgia, eu nunca deixei de te amar. Vais perceber que elas me condicionaram a vida e que eu fui fraca ao não conseguir lutar e ficar acima delas. Vais perceber que por muito que se tente, nem sempre somos bem sucedidos. Mas não faz mal. Quando entenderes isso tudo eu vou estar cá para te dar um abraço e dizer que te amo.

E vou tentar. Prometo que vou tentar ser uma boa irmã para ti e ajudar-te a venceres na vida. E quando parecer que tudo está errado e nada pode melhorar, eu vou estar cá para te dar a mão, ajudar-te a levantar e motivar-te para continuares porque é isso que as irmãs fazem.

Tu hoje és uma super menina, mas prepara-te... no futuro vais ser uma super mulher.

O amor e a fibromialgia

por AF, em 21.01.17

Conhecer pessoas novas com a intenção de namorar nunca foi fácil para mim. Não fiquem tão chocados, eu sei que sou demasiado fabulosa para os homens! Não. Na verdade eu sempre fui aquele tipo de pessoa que tem dificuldades em sair da casca. Sou introvertida e tenho uma enorme falta de coragem para tentar conhecer alguém por minha livre e espontânea vontade. Em suma, tenho medo da rejeição.

E o que é que isto tem a ver com a fibromialgia? Chegou-me agora o pensamento de como será explicar a alguém novo e por quem tenha uma possível atracção que eu, uma miúda de 22 anos, sofre de uma doença crónica? Assim muito rapidamente consigo lembrar-me de várias razões para não contar a ninguém o meu problema. Talvez me poderão chamar fraca, achar que isto é doença de velha, acharem um fardo terem de lidar com alguém assim, pensar que invento as dores por atenção. Nada disto é verdade mas acontece que existem pessoas que podem eventualmente pensar desta forma. Com a falta de conhecimento sobre a fibromialgia vem a ignorância em relação a lidar com a mesma tal como em tantas outras doenças. 

Tenho completa noção de que é algo que eu não tenho qualquer obrigação de contar porque não me define nem muda em forma alguma aquilo que sou. No entanto, se formos a ver as coisas noutra perspectiva imagino que terei de explicar o porquê de não aceitar fazer diversas actividades ditas normais como ir num encontro a um sítio qualquer. É um facto que nem sempre isto acontecem porém existirá sempre aquela saída que me fará andar muito ou exigirá demasiado de mim e cuja resposta será inevitavelmente não.

É aqui que me apercebo que talvez seja mais fácil ajustar-me a uma vida solitária do que andar por aí a procurar amor onde não haverá paciência. Se nem eu tenho, como terão os outros?!

Positivamente falando acredito que toda a gente tem o direito a sentir-se amado pelo menos uma vez na vida. Também acredito que existem pessoas que não se importam que alguém tenha a doença A, B ou C. Não deixam de ser seres humanos com sentimentos.

Falando por mim sei que consigo manter uma vida minimamente normal já que nem todos os dias dou por mim incapacitada pelas minhas dores e sinto-me feliz por isso. No entanto, sei igualmente que há tantas pessoas neste mundo que se vêem isoladas por não serem aceites da forma que são. Das doenças que têm, dos problemas que enfrentam.

Ao pensar nesta história toda de encontros e procura de amor vejo-me obrigada a apelar um pouco à consciência de todos aqueles que poderão ler as minhas palavras. Todas as pessoas, tenham elas que doença tiverem, enfrentem os desafios que enfrentarem... todas têm direito à felicidade. E se há algo que a fibromialgia me ensinou, é que toda a gente tem uma história diferente e isso significa que seja na próxima página ou no próximo capítulo, a felicidade tem o seu lugar. E se esta procura de amor não resultar com a pessoa que se acabou de conhecer, resultará mais tarde com outro alguém. Nós podemos não ter colheres suficientes mas quando chegar aquela pessoa que tem colheres suficientes pelos dois, então essa é para manter.

Até lá, mantenham-se fabulosos. Eu sei que vocês são.

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